Era para ser um texto sobre Embu das Artes
Aqui eu enalteço a arte de Embu, mas também choro porque sou real e caí num gatilho no meio do meu dia de diversão...
Hoje eu queria trazer um texto lindo para cá sobre Embu das Artes, lugar que queria há tempos conhecer, que já tinha sido recomendado para mim por ser minha cara e que planejei cuidadosamente pra ir nesse último feriado de primeiro de maio. Realmente o dia 1 amanheceu incrível e, apesar do sono, coloquei minhas próprias táticas para despertar em ação: molhar pulsos, rosto e nuca com água gelada por cerca de um minuto, café extra forte sem açúcar com colágeno, 30 polichinelos e 20 segundos de prancha para assustar o corpo assim, tudo numa linha única, rápida e sem parar. Preparei minha mini térmica de café e minha garrafa de água para levar para a viagem e eu e minha mãe fomos até a cidade que fica a mais ou menos 1h20 de onde eu moro.
A cidadezinha com ruas ladrilhadas já despertou em minha cabeça a canção infantil “se essa rua, se essa rua fosse minha” logo na chegada. O Google Maps me levou certinho. Na chegada, já avistei o restaurante chamado Saudades do Sul e soube que era lá que íamos almoçar. A visão da feira de artesanato no centro não me deixou dúvidas: mais minha personalidade, impossível. A visita de fato foi fantástica.
Cada barraquinha me fazia brilhar mais os olhos. Cada arte me fazia admirar mais o artista que ali estava por trás da banca, vendendo seu produto. Tive vontade de fugir para lá, fazer morada. Lembrei que talvez eu não tenha dotes suficientes no artesanato a ponto de vendê-los. Invejei silenciosamente aquelas boas almas. Não foi uma inveja desejando o mal. Foi uma inveja ingênua: queria ter a possibilidade dessa leveza. Viver de arte, ainda que não seja fácil estar no feriado atrás da barraca, embaixo de sol, usando artimanhas de vendedor para alcançar turistas.
Quis ter ido para pernoitar e poder beber os tantos chopps artesanais que vi diversas pessoas bebendo. Adorei ouvir os sons de vozes e instrumentos musicais se misturando porque muitas apresentações aconteciam ao mesmo tempo. Guardas chuvas pairavam no céu em certo lugar. Grafites no Beco das Lavadeiras enalteciam mulheres, em especial Raquel Trindade, feitos por Crica Monteiro. A arte se espreitava em cada canto. Mas também vi artesanatos sendo vendidos a preços quase simbólicos e lembrei da música Pena do O Teatro Mágico. Viver da arte não é glamouroso como eu insisto em pensar.
O que me baqueou de verdade foi ter encontrado a feira de filhotes de cães. Primeiro foi um “óuwn” infinito. Ver cachorrinhos pequenos brincando é a coisa mais fofa do mundo, seja no Instagram, seja pessoalmente. Mas me lembrou do meu cachorro, falecido em setembro de 2022. Abriu uma ferida ainda não cicatrizada. Não foi fácil encarar a saudade. O passeio acabou ali.
Voltei dirigindo em profunda tristeza. Chorei como um bebê recém-nascido ao chegar em casa, por longas horas. Dessa vez, sem lambidas para secar as lágrimas. Nunca foi fácil, desde setembro uma parte minha se quebrou e não voltou nem se quer a se colar. Mas dia 1 me dei conta de que realmente não tenho mais meu melhor amigo, meu irmão de quatro patas e meu amor mais profundo comigo para encarar a vida e isso é muito difícil. Foram 16 anos e sete meses juntos. Foi uma vida inteira de amor e trocas. Eu sei, é puro egoísmo meu querer que ele vivesse para sempre, animais duram pouco tempo porque não cabe tanto amor nesse mundo, ele cumpriu seu papel não só na Terra, mas para comigo e com a minha família. Porém a dor é tão grande e insuportável e eu simplesmente não sei como manter ela numa caixinha mais. Talvez escrever ajude a externalizar. Talvez seja colocar um band-aid na ferida e tentar seguir em frente. Talvez isso seja o meu elaborar e tentar entender que ele está em um lugar melhor e que, se estivesse ainda comigo, estaria sofrendo (pois, como era idosinho, já não enxergava mais e infelizmente sua saúde se deteriorou muito). Só oro todos os dias para que eu tenha a oportunidade de um dia reencontrá-lo. É muito amor guardado que eu dei em vida para ele sim, mas que ainda transborda de mim. Talvez esse seja um dos motivos pelos quais eu relute em um dia ter filhos: se eu amar alguém o tanto que eu amo esse doguinho, não seria capaz de suportar.
Eu não ia escrever esse texto. Mas eu li essa edição da
escrita pela e percebi que nas redes sociais costumamos mostrar sempre o lado bom das coisas. E não é bem assim que acontece. Eu tive um dia lindo. Mas também tive um gatilho terrível. Fica a dica de leitura.
Não deixem de ouvir Pena. Para refletir sobre arte vendida a preço de banana:
Das sincronicidades que acontecem na vida, sonhei que adotava uma cachorrinha e dava a ela o nome de Rubi, porém, não conseguia pronunciar. Sendo assim, o nome ficou Rumi. Acordei e fui pesquisar e, além de ser o nome da filha de Beyoncé, foi o nome de um poeta que também sofreu uma grande perda de um amigo e escreveu o seguinte sobre:
(...) eu sou o mesmo que ele.
Sua essência fala através de mim.
Eu tenho procurado por mim!
A união foi completa.
Rumi
Me confortou de certa forma. Jung explica essa?
Encontrei, próximo à viela dos grafites uma frase do perfil Epifania Literária, feito pelo poeta Jaime Filho:
O perfil do Instagram de Crica Monteiro mostrando mais de sua arte
Nessa edição da newsletter eu já havia desabafado sobre a perda do meu cachorro:
E isso é tudo pessoal! See u! :*
primeiro, que honra! e segundo: já vivi essa dor, e é dilacerante. te ofereço toda a minha compaixão e desejo de que fique mais fácil com o tempo.